segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Tópico frasal


Tópico frasal é a idéia central do parágrafo exposta num período, também conhecido como período tópico ou frase síntese. O tópico frasal determina o prosseguimento do parágrafo gerando períodos secundários ou periféricos.
O tópico frasal é a “célula” da idéia de um parágrafo, é como se o escritor “puxasse assunto” através de uma afirmação ou questão exposta na primeira frase do parágrafo. Leia os conceitos de tipo de parágrafos:
* Parágrafo – feitos para informações sintetizadas e público leitor de pouca formação cultural;
* Parágrafo médio – destinando ao leitor de nível médio, construído com cerca de 100 ou 150 palavras;
* Parágrafo longo – Presentes em obras científicas e acadêmicas, destinadas para explicações complexas e idéias intercaladas.
Num parágrafo, assim como em todo texto, a idéia pode ser enfatizada, mas não repetitiva, pode-se enumerar no caso de uma introdução, os assuntos que serão tratados no desenvolvimento. Numa redação em geral, é necessário ter a noção de que a conclusão, além de encerrar bem o texto inteiro, deve ter uma relação de concisão direta com o que foi escrito na introdução.




 Existem várias formas para apresentar o tópico frasal. Pode ser expresso por uma interrogação, por uma declaração inicial, uma alusão histórica, não apresentar elementos identificadores, a fim de criar expectativa.
Não podemos esquecer também que o tópico frasal deve ser pormenoriazado, isto é deve ser explicado em todos os seus pormenores e jamias deve ser genérico. Ele deve apresentar sempre uma especificidade.


Quando escrevemos um texto, este será dividido em introdução, desenvolvimento e conclusão. Um parágrafo também é dividido em três partes. A primeira parte será o tópico frasal, ou a explicação do que vai ser dito no parágrafo, o desenvolvimento e finalmente a conclusão, caso o assunto termine. Quando o assunto não estiver terminado, incicia-se outroparágrafo, sem redigir a conclusão, esta só virá quando o assunto estiver terminado, mesmo que para isso seja necessário vários paágrafos.

Todo professor de português, quando vai ensinar a fazer uma redação, avisa os alunos: Todo texto deve ter INTRODUÇÃO, DESENVOLVIMENTO E CONCLUSÃO. É necessário, porém, fazer uma ressalva, o mesmo problema existe em cada parágrafo. O parágrafo, também, deve ter Introdução - que chamamos de TÓPICO FRASAL - desenvolvimento e conclusão.
Em um texto longo, um capítulo de livro, um conto, uma crônica, etc., a Introdução pode ter város parágrafos, assim como o desenvolvimento e a conclusão. Já em um texto simples, uma redação escolar, por exemplo, a Introdução e a conclusão, normalmente, têm um parágrafo,e o desenvolvimento dois a três parágrafos.
O que não se pode fazer, em uma redação escolar, é um texto com trinta a quarenta linhas em um só parágrafo. O aluno, com certeza, vai esquecer como iniciou o texto, em que pessoa e se está no singular ou no plural.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Prova do Enem 2011

http://download.uol.com.br/educacao/enem2011/05_AMARELO.pdf

Clique no endereço acima.

Redação no Enem

1) A temática proposta costuma ter um viés social que pode - e deve - ser associada a outras esferas: cultural, política, comportamental, ambiental. 

2) Clareza e coerência são fundamentais na construção textual. Lembre-se de que a leitura deve ser "fácil" e fluida, garantindo o bom entendimento do seu texto. Para isso evite a utilização de termos rebuscados e preocupe-se com os conectivos: termos como "portanto", "então", "além disso" e "desse modo", quando bem utilizados garantem a fluidez necessária.

3) A banca do Enem pede que você apresente propostas de intervenção, ou seja, medidas que podem amenizar uma situação-problema. Avalie o papel do governo, da sociedade, do indivíduo e da mídia, por exemplo, na tentativa de reverter panoramas que podem ser melhorados ou amenizados. 

4) Na proposta de intervenção é fundamental o respeito aos direitos humanos. Posturas radicais ou extremas não condizem com um cidadão consciente e engajado que já cursou o ensino médio. 

5) Faça uso dos conhecimentos adquiridos ao longo da sua formação. Embase seus argumentos com elementos históricos, geográficos, literários, filosóficos, entre outros, demonstrando pleno conhecimento de mundo. Não se esqueça: a interdisciplinaridade é bem vista pela banca, mas sempre acessória. O principal é focar na defesa do seu ponto de vista.

Na hora de escrever

NÃO FAÇA períodos muito longos, prefira sempre frases simples, pois elas dão clareza ao texto
NÃO CRIE estruturas sintáticas incompletas
NÃO USE marcas de oralidade, como gírias, por exemplo
NÃO RECORRA a clichês quando fizer sua proposta
NÃO USE um mesmo argumento repetidas vezes
DEIXE DE LADO expressões como "eu acho"
JAMAIS desrespeite os direitos humanos
FAÇA UM ROTEIRO sobre o tema. Ajuda a ter foco na hora de criar a proposta
PREFIRA um vocabulário simples a palavras rebuscadas
USE sinônimos para não repetir palavras
USE a norma culta. Uma das cinco competências da redação avalia o rigor gramatical
SEJA coerente no texto com a proposta que defenderá

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Questões sobre A Cartomante

1. Você observou que esse conto não é narrado numa sequência linear - começo, meio e fim. O início do conto que mostra o diálogo entre Camilo e Rita sobre a cartomante, já nos apresenta a trama perto de seu desfecho. Localize a passagem em que o narrador faz um corte no presente e volta ao passado para explicar quem são as personagens centrais e como chegaram à situação em que se encontram.

2.O que você entende da frase dita por Hamlet(Hamlet é personagem da peça teatral Hamlet, o príncipe da dinamarca, do escritor britânico William Shakespeare) e mencionada no texto: "Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia"?

3.Quando uma pessoa não acredita em nada, diz-se que ela é cética. O ceticismo está presente nos textos machadianos. Nesse conto, de que maneira aparece esse ceticismo?

4. Faça a descrição física e psicológia das personagens que fazem parte do triângulo amoroso do conto.

5. Quem, segundo o narrador, é o responsável pela continuidade do envolvimento de Rita e Camilo?

6. Que comparação o narrador utiliza para se referir ao comportamento de Rita?

7.Você gostou do conto? Justifique sua resposta. Que tal ler outros contos de Machado de Assis?

8. Qual o desfecho do conto? Você gostou? Por quê?

9.. Substitua as palavras destacadas em destaque nas frases por sinônimos.
a- "Vilela seguiu a carreira de magistrado."
b- "Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário..."
c- "...a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo."
d- "Voltou à rua, e a ideia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil..."

10. A Cartomante é uma obra realista. Aponte as  características do Realismo presente no texto de Machado de Assis.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Cartomante

A Cartomante
de Machado de Assis
Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que
sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela, por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia por outras palavras.
— Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade...
— Errou! interrompeu Camilo, rindo.
— Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe
queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso, quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois, repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela podia sabê-lo, e depois...
— Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
— Onde é a casa?
— Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa ocasião.
Descansa; eu não sou maluca.
Camilo riu outra vez:
— Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe.
Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que
havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as ilusões.
Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação total. Camilo não acreditava em nada. Por quê?
Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando. Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele, correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos, onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo d esceu pela da Guarda Velha, olhando de passagem para a casa da cartomante.
Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação das
origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado. Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
— É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como
meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor.
Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras.
Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não desmentia
as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos, olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis. Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher, enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática.
Faltava-lhe tanto a ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a
mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que
gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di feminina: eis o que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as damas e o xadrez e jogavam às noites; — ela mal, — ele, para lhe ser agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas. Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente e de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do bilhetinho.
Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo. Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma serpente,
foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura, mas a batalha foi curta e a vitória
delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados, pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma paixão frívola de rapaz.
Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-se, e as visitas cessaram
inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante
para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento: — a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse é ativo e pródigo.
Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse ter
com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que era possível.
— Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com as das
cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se
sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se, sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se corresponderem , em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de meio-dia.
Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas essas cousas com a notícia da véspera.
— Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, — repetia ele com
os olhos no papel.
Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e
lacrimosa, Vilela indignado, pegando da pena e escrevendo o bilhete, certo de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto fútil, viria confirmar o resto.
Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as palavras
estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, — o que era ainda pior, — eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela. "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê? Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto. Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo. Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois rejeitava a idéia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção do Largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou seguir a trote
largo. "Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim..."
Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo voava, e
ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da Rua da Guarda Velha, o tílburi teve de parar, a rua estava atravancada com uma carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi, ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua. Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era grande,
extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O cocheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir por outro caminho: ele respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a pouco moveu outra vez as asas, mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens, safando a carroça:
— Anda! agora! empurra! vá! vá!
Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos, pensava
em outras cousas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as palavras da carta: "Vem, já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia. A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar . Camilo achou-se diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos extraordinários: e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia... " Que perdia ele, se... ?
Deu por si na calçada, ao pé da porta: disse ao cocheiro que esperasse, e
rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não, viu nem sentiu nada. Trepou e bateu.
Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era tarde, a curiosidade
fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante. Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos. Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do que destruía o prestígio.
A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e enxovalhadas.
Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana, morena e magra, com  grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas sobre a mesa, e disse-lhe:
— Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
— E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...
— A mim e a ela, explicou vivamente ele.
A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra vez das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas. três vezes; depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela. curioso e ansioso.
— As cartas dizem-me... Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro; ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela: ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de Rita... Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as cartas e fechou-as na gaveta.
— A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por
cima da mesa e apertando a da cartomante.
Esta levantou-se, rindo.
— Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu, como
se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava o preço.
— Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer
mandar buscar?
— Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante
fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
— Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
senhor. Vá, vá, tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu..
A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele, falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a escada que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram íntimos e familiares.
Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser algum negócio grave e gravíssimo.
— Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa;
parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O presente que se ignora vale o futuro. Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima, e o mistério empolgava-o com as unhas de ferro. Às vezes queria rir, e ria de si mesmo, algo vexado; mas a mulher, as cartas, as palavras secas e afirmativas, a exortação: — Vá, vá, ragazzo innamorato; e no fim, ao longe, a barcarola da despedida, lenta e graciosa, tais eram os elementos recentes, queformavam, com os antigos, uma fé nova e vivaz.
A verdade é que o coração ia alegre e impaciente, pensando nas horas felizes de outrora e nas que haviam de vir. Ao passar pela Glória, Camilo olhou para o mar, estendeu os olhos para fora, até onde a água e o céu dão um abraço infinito, e teve assim uma sensação do futuro, longo, longo, interminável.
Daí a pouco chegou à casa de Vilela. Apeou-se, empurrou a porta de ferro do
jardim e entrou. A casa estava silenciosa. Subiu os seis degraus de pedra, e mal teve tempo de bater, a porta abriu-se, e apareceu-lhe Vilela.
— Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o morto no chão.
FIM

sábado, 3 de setembro de 2011

A diferença entre tu e você!

Vocês sabem a diferença entre tu e você?

  Vocês que pensam que sabem, abaixo segue um pequeno exemplo, que ilustra muito bem essa diferença:
  O Diretor Geral de um Banco, estava preocupado com um jovem e brilhante Diretor, que depois de ter trabalhado durante algum tempo com ele, sem parar nem para almoçar, começou a ausentar-se ao meio-dia.
  Então o Diretor Geral do Banco, chamou um detetive e disse-lhe:
  - Siga o Diretor Lopes durante uma semana, durante o horário de almoço.
  O detetive, após cumprir o que lhe havia sido pedido, voltou e informou:
  - O Diretor Lopes sai normalmente ao meio-dia, pega o seu carro, vai a sua casa almoçar, faz amor com a sua mulher, fuma um dos seus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.
  Responde o Diretor Geral:
  - Ah, bom, antes assim. Não há nada de mal nisso.
  Logo em seguida o detetive pergunta:
  - Desculpe. Posso tratá-lo por tu?
  - Sim, claro respondeu o Diretor surpreso!
  - Bom então vou repetir: O Diretor Lopes sai normalmente ao meio-dia, pega o teu carro, vai a tua casa almoçar, faz amor com a tua mulher, fuma um dos teus excelentes cubanos e regressa ao trabalho.
  A língua portuguesa é mesmo fascinante!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

3º Bimestre!!!!

Pronomes Pessoais:  Indicam uma da três pessoas do discurso
Emprego dos pronomes pessoais
a)      Os pronomes pessoais retos exercem a função sintática de sujeito e os oblíquos de complementos verbais:
Eu vou estudar.
Traga o livro para mim.
b)      Os pronomes eu e tu nunca podem ser regidos de preposição. Devemos substituí-los pelas forma mim e ti, respectivamente.
Já não espero mais nada de ti.
No palco fique entre mim e o apresentador.
c)      Os pronomes oblíquos apresentam duas formas:

  • Átonos – são empregados sem preposição: Jamais te darei outra oportunidade.
  • Tônicos _  são empregados com preposição: Trouxe o presente para ti.

d)      Os pronomes o, a, os, as, exercem a função de objeto direto e lhe, lhes de objeto indireto ou complemento nominal.
Encontrei alguns amigos na praia – Encontrei-os na praia
Sempre obedeci aos meus pais – Sempre lhes obedeci.
A decisão foi favorável ao aluno – A decisão foi-lhe favorável.

e)      Os pronomes o, a, os, as, assumem as formas lo, la, los, lãs após as formas verbais terminadas em r, s, ou z:
Devo resolver este problema – Devo resolvê-lo.
Vou levar as crianças ao parque. – Vou  levá-las ao parque.
A Argentina produz bons vinhos – A Argentina produ-los.

f)        Com as formas verbais terminadas em som nasal( m ou ão) ao pronomes o, a, os, as, assumem as formas no,na,nos,nas:
Detiveram o ladrão na porta do banco – detiveram-no na porta do banco.

g)      Quando o pronome oblíquo se refre à mesma pessoas do pronome reto, ele é denominado reflexivo.
Feri-me com uma faca ( Feri a mim mesmo)
Ela admirava-se no espelho ( Admirava a si mesmo)

h)      Os pronomes nos, vos e se quando indicam ação mútua, denomina-se recíprocos:
Os noivos deram-se as mãos. ( Deram as mãos um ao outro).

i)        Os pronomes si e consigo só podem ser empregados como reflexivos.
Aquela vaidosa garota só pensa em si ( e não nela)
Sempre leve consigo seus documentos ( e não com você)

j)        Deveremos empregar as formas com nós e com vós quando aparecerem seguidas de palavras enfáticas como mesmos, próprios, todos, outros ou qualquer numeral:
Você viajará com nós todos             Irei com vós mesmos.        

k)      Os pronomes me, te, lhe , nos e vos podem apresentar valor possessivo.
Roubaram-me os documentos. (Roubaram os meus documentos).
Beijei-lhe delicadamente a testa. ( Beijei delicadamente sua testa).

Dúvidas?????

por Sérgio Nogueira |
 A dúvida é: A reunião só começará após às ou as 10h?
A resposta é: A reunião só começará após as 10h.
Já sabemos que a presença de uma preposição dispensa o uso de outra. Se temos a preposição após, não haverá crase porque não teremos a preposição a. O mesmo ocorre com outras preposições: “Ele está aqui desde as 10h”; “A reunião ficou para as 10h”; “A reunião será entre as 10h e o meio-dia”.
 A dúvida é: O atacante ficou cara à cara ou cara a cara com o goleiro?
A resposta é: O atacante ficou cara a cara com o goleiro.
Não ocorre crase em expressões repetidas do tipo “cara a cara, frente a frente, gota a gota, face a face”. A explicação é simples: o substantivo repetido está usado no seu sentido genérico, ou seja, sem artigo definido. Temos apenas a presença da preposição “a”. A prova disso é que o mesmo ocorre com os substantivos masculinos: “corpo a corpo, lado a lado”.
 A dúvida é: Espere um instante que o diretor já vai falar consigo ou com você?
A resposta é: Espere um instante que o diretor já vai falar com você.
“Falar consigo”, rigorosamente, no Brasil, é “falar com si mesmo”. CONSIGO é um pronome reflexivo e devemos evitar usá-lo com o sentido de “com ele”, “com você” ou “contigo”. Isso significa que a expressão CONSIGO MESMO seria redundante. Não é necessário dizer: “Ele levou os dólares consigo mesmo.” Basta: “Ele levou os dólares consigo.”
 A dúvida é: Eu vi ela ou a vi?A resposta é: Eu a vi.
No caso específico da frase “Eu vi ela”, o problema é que, além do cacófato (=vi ela), temos um pronome mal empregado: ELE(S) e ELA(S) são pronomes pessoais do caso reto e só podem ser usados na função de sujeito. Para complementos verbais, devemos usar os pronomes oblíquos (o, a, os, as, lhe, lhes …).
Frequentemente, pessoas que desejam falar bem cometem alguns errinhos, pois querem corrigir o que está errado e não sabem como. Ouço muito: “Há quanto tempo que não LHE vejo!”. Costumo dizer: “É porque você está vendo muito mal”. Quer saber por quê. Ora, o pronome LHE substitui “objetos indiretos”. Para os “objetos diretos”, devemos usar os pronomes O(S) e A(S). O verbo VER é transitivo direto; o correto, portanto, é “Há muito tempo que não o vejo.”
Resumindo: ELE(S) e ELA(S) = pronomes pessoais retos = sujeito; LHE(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos indiretos; O(S) e A(S) = pronomes pessoais oblíquos = objetos diretos.
 A dúvida é: Ela trouxe o livro para mim ler ou para eu ler?
A resposta é: Ela trouxe o livro para eu ler.
É outro vício de nossa linguagem cotidiana. MIM é um pronome pessoal oblíquo, por isso não pode exercer a função de sujeito. Observe que são duas orações: “Ela trouxe o livro / para eu ler”. A segunda oração é reduzida de infinitivo (= para que eu lesse). Isso significa que o pronome pessoal reto EU é o sujeito do verbo LER.
Se não houvesse o verbo LER, teríamos apenas uma oração cujo sujeito é o pronome ELA. Nesse caso, devemos usar o pronome pessoal oblíquo: “Ela trouxe o livro para MIM.”
Essa regra se aplica a qualquer preposição. Observe os exemplos: “Ela chegou antes DE MIM”, porém “antes DE EU sair”; “Ela fez isso POR MIM”, porém “POR EU estar cansado”.
Assim sendo, responda: o certo é “Não há nada entre EU e você” ou “entre MIM e você”? Quem disse “entre EU e você” respondeu “de ouvido” e “se deu mal”. O correto é “entre MIM e você”. Observe que não há verbo após o pronome MIM. Isso significa que ele não é sujeito, por isso devemos usar o pronome pessoal oblíquo.
Se a resposta não lhe agradou, em vez de usar “entre eu e você” (que está errado) ou “entre mim e você” (que está certo, mas você achou esquisito), diga que “não haverá mais nada entre NÓS”. Resumindo: Preposição (de, entre, para, por…) + EU + verbo infinitivo; Preposição (de, entre, para, por…) + MIM (sem verbo).
 A dúvida é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com nós ou conosco?
A resposta é: Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião conosco.
Na 1a pessoa do plural, o pronome pessoal oblíquo tônico é conosco: “Ele quer falar conosco”. Entretanto, devemos usar a forma “com nós” antes de algumas palavras: “Ele quer falar com nós todos”; “Ele deixou a decisão com nós mesmos (=com nós próprios)”; “Ele quer fazer uma reunião com nós dois” (=numerais); “Ele deixou a decisão com nós, que reclamamos da sua proposta”.
No Português falado no Brasil, em vez de conosco, ouvimos muito mais o “famoso” com a gente: “Ele falou com a gente”, “Ele saiu com a gente”. Entretanto, em textos formais que exijam uma linguagem mais cuidada, devemos usar conosco. É só imaginar a ata de reunião de uma grande empresa: “Os nossos fornecedores querem fazer uma reunião com a gente”. Fica muito estranho. Não é uma questão de certo ou errado. É um problema de inadequação.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

CCMC 2º ANO BEM-VINDOS: Crônica: o papel higiênico

CCMC 2º ANO BEM-VINDOS: Crônica: o papel higiênico: "Fato corriqueiro... Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra 'dimensão' graças ao olhar subjetivo do autor...."

Crônica: o papel higiênico

Fato corriqueiro...

Há na crônica uma série de eventos aparentemente banais, que ganham outra "dimensão" graças ao olhar subjetivo do autor. O leitor acompanha o acontecimento, como uma testemunha guiada pelo olhar do cronista que tem a pretensão de registrar de maneira pessoal o acontecimento. O autor dá a um fato corriqueiro uma perspectiva, que o transforma em fato singular e único.

O Papel Higiênico

Ontem, ao fazer  compras no supermercado, fiquei pasma com a variedade da linha de papéis higiênicos Neve, aquele mesmo que era anunciado antigamente pelo mordomo Alfredo.
Segundo seu fabricante, Neve é um produto sofisticado, destinado às classes A e B.
Percebe-se pelas características de cada modelo, como o Neve ultra, que já vem com algumas características diferenciadas: relevo de flores, perfume e uma microtextura, que segundo o texto da embalagem propociona a seus felizes usuários a "suavidade de uma pétala de rosa"(perguntar não ofende: alguém ja limpou o bumbum com uma pétala de rosa?)
Depois, tem  o ultra soft color( mais caro e mais pretensioso): é laranja e vem com extrato de pêssego. Como se o bumbum da gente enxergasse a cor e sentisse o cheiro.
Mais demais mesmo é o Neve ultra protection, o top de linha. Estes Rolls Royce dos papéis higienicos, além de conter óleo de amêndoas (garante maciez superior e um cuidado maior com a sua pele)em sua fórmula, vem com vitamina E!
Não é demais? Agora você pode sair do banheiro com o bumbum vitaminado!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Revisão

Revisão.
  1. Passe as frases para o plural.

a)      Ele só usava terno azul-escuro.
b)      Participei de uma reunião político-social.
c)      Passeava no pasto um lindo cavalo castanho-claro
d)      O país já foi governado por ditador  todo-poderoso.

2.Elimine a expressão da cor de  e forme adjetivos compostos.
a) A bailarina usava maiô da azul da cor de piscina
As bailarinas usavam maiôs_______________________
b) No banheiro havia uma toalha verde da cor do mar.
No banheiro haviam duas toalhas__________________
Ela jamais compraria este vestido amarelo da cor de laranja.
Ela jamais compraria estes vestidos___________________
3.O grau do adjetivo. Grau é a flexão do adjetivo que intensifica ou atenua(diminui) a característica expressa por esse adjetivo.
Grau comparativo de superioridade
Grau comparativo de igualdade
Grau comparativo de inferioridade
Superlativo relativo de superioridade
Superlativo relativo de inferioridade
Superlativo absoluto  sintético
Superlativo absoluto analítico

a)      Marcos é tão alto quanto Lucas.
b)      Beto é mais alto que Tuco.
c)      Marcos é menos alto que Beto.
d)      Lucas e Marcos são os menos altos do time.
e)      Beto é o mais alto dos jogadores do time.
f)        Beto é muito alto.
g)      Beto é altíssimo.
4.Dê o adjetivo correspondente às locuções destacadas
a) tônica para cabelo
b) água da chuva
c) navegação por rio
d) impressão de dedos
e) traumatismo de crânio
f) doença do coração
g) carne de porco
h) doença do fígado
i) reunião de alunos

5. A frase que contém um adjetivo é:
a) A necessidade fez isto do homem.
b) Todos lutam para ter a liberdade.
c) A televisão nos mostra o mundo.
d) Ele usa um topete escandaloso.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Grau dos adjetivos

Adjetivo            superlativo absoluto sintético
agradável          agradabilíssimo
amargo             amaríssimo
amável              amabilíssimo
amigo               amicíssimo
antigo               antiquíssimo
benéfico           beneficentíssimo
célebre            celebérrimo
cruel                crudelíssimo
difícil                 dificílimo
doce                 dulcíssimo
feroz                 ferocíssimo
frio                   frigidíssimo
magnífico         magnificentíssimo
magro              macérrimo
miserável         miserabilíssimo
nobre              nobilíssimo
pobre                paupérrimo
sábio                sapientíssimo
sensível           sensibilíssimo
simpático         simpatícíssimo
simples            simplicíssimo

Locuçao Adjetiva

Locução adjetiva é o conjunto de palavras que tem o valor de adjetivos: amor de mãe = amor materno
Adjetivos               locução adjetiva

abdominal              de abdome
apícola                   de abelha
sacarino                  de acúcar
discente                  de aluno
aracnídeo               de aranha
bucal, oral              de boca
cefálico                   de cabeça
capilar                    de cabelo
canino                    de cão
plúmbeo                de chumbo
pluvial                    de chuva
cardíaco               de coração
digital                    de dedo
pecuniário            de dinheiro
ígneo                     de fogo
pecuário               de gado  
glacial                  de gelo
étario                   de idade
cutâneo               de cútis, pele
junino                  de junho
lateral                  de lado
lácteo, láctico       de leite
solar                    de sol
níveo                   de neve
noturno               de noite
paradisíaco          de paraíso
vital                     de vida
vítreo                   de vidro
eólico                  de vento
senil                    de velho
romanesco          de romance
real                     de rei
cervical               de pescoço   
ósseo                  de osso                       

A Moreninha

- O Autor:

Nasceu em Itaboraí [RJ], em 1820. Fez o curso de Medicina e, no m,esmo ano de sua formatura, 1844, publicou A Moreninha, muito apreciado pelo público da época. Foi jornalista, professor secundário, dramaturgo e romancista, obtendo destaque literário com este último gênero. Fundou, em 1849, a 'Revista Guanabara', juntamente com Gonçalves Dias e Araújo Porto Alegre. Morreu no Rio de Janeiro, em 1882.

II- Obra:

O dia de Sant'Ana se aproxima e o estudante de medicina, Filipe, convida seus colegas: Leopoldo, Fabrício e Augusto para a comemoração na ilha, onde mora sua avó, D.Ana, de 60 anos. Os alegres estudantes aceitam o convite com entusiasmo, exceto Augusto. Filipe, para atraí-lo à ilha, faz referência ao baile de domingo, em que estarão presentes suas primas: a pálida, Joana, de 17 anos, Joaquina, loira de 16 e sua irmã, D.Carolina, uma moreninha de 15.

Augusto acaba concordando, mas adverte sobre sua inconstância no amor, dizendo jamais se ocupar de uma mesma moça durante 15 dias. Os rapazes apostam que o amigo ficará apaixonado durante 15 dias por uma única mulher. Se isso ocorrer, terá de escrever um romance, caso contrário, Filipe o escreverá, narrando a inconstância.

Antes da partida, Fabrício envia uma carta a Augusto, pedindo-lhe ajuda para se livrar da namorada, a prima feia e pálida de Filipe, Joana. Durante a estadia, Augusto deve persegui-la e, Fabrício, fingindo ciúmes, termina o romance. Ao se encontrarem na ilha, o colega nega o auxílio e, à hora do jantar, Fabrício torna pública a inconstância amorosa do amigo.

Mais tarde, Augusto conta a D.Ana que seu coração já tem dono; uma menina que, por acaso, encontrou aos 13 anos, numa praia. Nesse dia, auxiliam a família de um pobre moribundo que lhes dá um breve como sinal de eterno amor; o da menina contém o camafeu de Augusto e o dele o botão de esmeralda da garota. O rapaz não a esquece e, como não sabe seu nome, passa a tratá-la por minha mulher. Enquanto narra a história, pressente que alguém o está escutando. Avista à distância a irmã de Filipe, um sucesso entre os rapazes, em especial, Fabrício, apaixonado pelos gestos e peraltices da doce Moreninha.

Chegada a hora das despedidas, Augusto não consegue pensar em outra coisa senão em D.Carolina. Recorda-se da meiguice da menina, quando esta lavava os pés da escrava, que passou mal na ilha por ter bebido além da conta. Retorna no domingo, acertando novo encontro para o final da semana. A Moreninha corresponde a todos os galanteios, ansiando pela volta. Contudo o pai do rapaz, ao visitá-lo, resolve impedir o retorno à ilha; quer vê-lo estudando, trancado no quarto.

Augusto fica tão abatido que, durante a semana, não consegue deixar o leito, sendo necessária a presença de um médico. Na ilha, a Moreninha, inconformada, se desespera até saber que o rapaz está doente. No domingo, coloca-se no rochedo, esperando o barco, enquanto canta a balada da índia Ahy sobre o amor da nativa pelo índio Aiotin. Na canção, a bela índia tamoia de 15 anos narra que o amado, vindo à ilha para caçar, jamais nota sua presença, mesmo quando lhe recolhe as aves abatidas ou refresca a fronte do guerreiro, adormecido na gruta. Tudo isso retira a alegria de viver da menina que, cansada de ser ignorada, chora sobre o rochedo, formando uma fonte. O índio, dormindo na gruta, acaba bebendo as lágrimas da jovem e passa, primeiro a percebê-la no rochedo, depois a ouvir seu canto e, finalmente, quando bebe da fonte, por ela se apaixona. Um velho frade português traduz a canção de Ahy para a nossa língua, compondo a balada que a Moreninha canta.

De repente, Carolina localiza Augusto e o pai no barco que se aproxima da ilha. D.Ana convida-os para o almoço e a Moreninha, pedida em casamento, dá um prazo de meia hora para dar a resposta, indo para a gruta do jardim, onde há a fonte de Ahy. O rapaz pergunta se deseja consultar a fonte, mas D.Ana, certa da resposta, pergunta-lhe se não deseja, também, refletir no jardim e ele parte imediatamente.

Encontra a menina que,
cruelmente, lhe recorda a promessa feita, na infância, junto ao leito do moribundo. Censura-o por faltar ao amor daquela a quem chama de sua mulher. Angustiado, o rapaz a contesta, afirmando se tratar de um juramento feito na infância e de desconhecer o paradeiro da menina. A Moreninha diz que incentivou seu amor por vaidade de moça e por saber de sua inconstância. Lutou para conquistá-lo e deseja saber, agora, quem ganhou, o homem ou a mulher. Augusto responde que a beleza. Carolina conta ter ouvido a história narrada a D.Ana e insiste no cumprimento da promessa.O rapaz desesperado, prefere fugir da ilha, abandonar a cidade e o país. Mesmo que encontrasse a menina, lhe pediria perdão por ter se apaixonado por outra. Repentinamente, arranca de debaixo da camisa o breve com a esmeralda para espanto da Moreninha.

O casal chora pateticamente, Carolina pede a Augusto para procurar 'sua mulher' e lhe explicar o ocorrido e, só, então, retornar. Ele concorda, mas não sabe onde ela está. A Moreninha diz que, certa vez, também, ajudou a um moribundo e sua família, recebendo pelos préstimos um breve, contendo uma pedra que daria o que se deseja a quem o possuísse. Passa o breve ao rapaz, para ajudá-lo na busca, pedindo que o descosa e retire a relíquia. Rapidamente, ele o desfaz e dando com seu camafeu, atira-se aos pés da amada. D.Ana e o pai de Augusto entram na gruta, encontrando-o de joelhos, beijando os pés de Carolina, perguntam o que está ocorrendo.A menina responde que são velhos conhecidos, enquanto o moço repete que encontrou sua mulher.

Filipe, Fabrício e Leopoldo retornam à ilha para as preparações do casamento e, recordando que um mês havia se passado, lembram a Augusto do romance e ele lhes responde já tê-lo escrito e que se intitula A Moreninha.
http://www.mundovestibular.com.br/

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Obra: Inocência

2. VISCONDE DE TAUNAY (1843-1899)
Vida: Alfredo d'Escragnolle-Taunay nasceu no Rio de Janeiro, no seio de uma família aristocrática e dada às artes. Seu avô paterno, Nicolau Antônio, viera da França para fundar a Academia de Belas Artes do Rio de janeiro. Seu pai, o também pintor Félix Taunay, tornara-se preceptor de d. Pedro II. Induzido pelos familiares a abraçar a carreira das armas, Alfredo cursou engenharia na Escola Militar e como segundo tenente participou da expedição que tentou repelir os paraguaios que dominavam o sul da província de Mato Grosso. A derrota militar que se seguiu, ocasionada pela falta de víveres e pelo cólera, seria retratado de forma pungente em A retirada de Laguna, relato escrito em francês, já que o futuro visconde era bilíngüe.
Finda a Guerra do Paraguai tornou-se professor de geologia da Escola Militar. Em 1872, publicou Inocência, espécie de Romeu e Julieta sertanejo, certamente a sua principal obra. Foi nomeado presidente da província de Santa Catarina e depois presidente do Paraná. Em 1886, alcançou o Senado, mas por fidelidade ao Imperador, abandonou a política após a proclamação da República. Diabético, morreu na capital federal com cinqüenta e seis anos incompletos.
Obras principais A retirada da Laguna (1871); Inocência (1872).
Visconde de Taunay é o mais interessante dos ficcionistas do sertanismo romântico, embora tenha publicado apenas um romance dentro da referida linhagem.
INOCÊNCIA
Resumo
Cirino, um rapaz de boa índole e muito curiosidade, viaja pelo sertão do Mato Grosso, apresentando-se como médico e dando consultas, quase sempre bem sucedidas, embora seja apenas um "prático"* , com experiência de farmacêutico. Em determinado momento, conhece Pereira, um pequeno proprietário rural que está voltando para casa e que possui uma filha doente.
Cirino aceita a hospitalidade oferecida por Pereira e cura a febre da jovem (Inocência), causada pela maleita. Só que ao vê-la, impressiona-se profundamente com a sua beleza e se apaixona pela sertaneja. No entanto, Inocência já estava prometida por seu pai a um vaqueano, Manecão, caracterizando-se assim a temática nuclear do romance: a do amor impossível.
Simultaneamente, um naturalista alemão, Meyer, que vaga pelos sertões, caçando borboletas, apresenta-se na pequena fazenda sertaneja, acompanhado de um cômico servo e trazendo uma carta de recomendação do próprio irmão de Pereira. Este recebe o cientista de braços abertos mas, por ser muito rústico, não entende que as galanterias que o alemão destina a Inocência são apenas frutos de sua educação e passa a temê-lo e vigiá-lo. Conta para isso com um fiel serviçal, um anão mudo chamado Tico. Sem entender nada do que está se passando, Pereira pede a Cirino que permaneça em sua casa até a partida do alemão para ajudar na guarda da filha, inclusive arranjando-lhe alguns pacientes.
Inocência e Cirino mal conseguem se falar até que, numa noite, o rapaz bate à janela da jovem e confessa-lhe a paixão. Ela responde da maneira mais simplória que alguém pode imaginar:
Mas por que é que mecê gosta tanto de mim? Mecê não é meu parente, nem primo, longe que seja, nem conhecido sequer... Eu lhe vi apenas pouco tempo... e tanto se agradou de mim?
Em seguida, acusa o falso médico de virar-lhe o juízo através de algum feitiço. Mas este a convence da sinceridade de seu amor e Inocência descobre-se igualmente apaixonada por ele. Os dois jovens voltam a se encontrar mais uma vez às escondidas, quando então Cirino propõe a fuga como alternativa para a realização amorosa. Inocência, entretanto, se recusa a isso com medo que o pai a amaldiçoasse e sugere que o namorado buscasse o apoio de um padrinho dela, Antônio Cesário, por quem o Pereira tinha muito respeito.
Enquanto isso, o naturalista alemão descobrira uma espécie desconhecida de borboleta e resolvera batizá-la com o nome de Inocência, deixando Pereira indignado e cada vez mais vigilante. Porém logo o cientista parte, dissipando as suspeitas do pai da sertaneja. Também Cirino viaja em busca do auxílio de Antônio Cesário. Ao mesmo tempo, Manecão, o noivo prometido chega à casa de Pereira. Inocência se recusa a validar o compromisso entre ambos e é espancada pelo pai. Através da mímica, o anão mudo indica o pseudo médico como o responsável pela insubordinação da garota. Exasperado, Manecão vai atrás de Cirino e o assassina.
O romance tem seu desfecho com o sábio Meyer recebendo grande homenagem na Alemanha pela descoberta da borboleta (Papilio Innocentia), sem saber que dois anos antes Inocência preferira desaparecer a se casar com Manecão, encontrando na morte a sua própria salvação.

Iracema, a virgem dos lábios de mel

"Iracema" - Resumo e análise do livro de José Alencar

Escrito em prosa poética, esse romance é um dos principais representantes da vertente indianista do movimento romântico e traça uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira
A narrativa de Iracema estrutura-se em torno da história do amor de Martim por Iracema.
Diferentemente do que ocorre em outros romances de José de Alencar, como O Guarani, o enredo de Iracema é aberto a interpretações. A relação entre Martim e Iracema significa a união entre o branco colonizador e o índio, entre a cultura européia, civilizada, e os valores indígenas, apresentados como naturalmente bons. É uma espécie de mito de fundação da identidade brasileira.

Ainda menino, Alencar fez uma viagem pelo sertão. A experiência dessa viagem de garoto seria constantemente evocada pelo futuro escritor em seus romances, com imagens e impressões da exuberante natureza brasileira. Alguns espaços merecem destaque por ser palco de importantes acontecimentos desse romance: o campo dos tabajaras, onde fica a taba do pajé Araquém, pai de Iracema; a taba de Jacaúna, na terra dos potiguaras (ou pitiguaras); a praia em que vivem Martim e Iracema e onde nasce Moacir.

IMAGENS E METÁFORAS
Uma das grandes habilidades de Alencar está em representar o pensamento selvagem por meio de uma linguagem cheia de imagens e de metáforas. Sabe-se que as sociedades que não avançaram no terreno da lógica argumentativa (que pressupõe noções científicas básicas) têm em contrapartida grande riqueza no plano mitológico. Elas se valem dos mitos e das histórias para explicar o mundo.
O pensamento do selvagem é imagético e, por isso, está muito próximo da poesia. Vê-se nesse ponto como o autor soube unir forma e conteúdo. De outro modo seria difícil caracterizar a linguagem do índio sem prejuízo da verossimilhança.

BASE HISTÓRICA A narrativa inicia-se em 1608, quando Martim Soares Moreno é indicado para regularizar a colonização da região que mais tarde seria conhecida como Ceará.

José de Alencar era leitor assíduo de Walter Scott, criador do romance histórico, e foi influenciado por esse escritor. Como em vários romances de Alencar, Iracema mistura ficção e documento, com enredo que toma como base um argumento histórico. Essa junção se deve também ao projeto de criação de uma literatura nacional, no qual Alencar e os demais escritores românticos do seu tempo estavam fortemente empenhados.

Ainda quanto ao aspecto histórico, que o autor levou em conta ao compor a obra, ressalte-se que os índios potiguaras (habitantes do litoral) eram aliados dos portugueses, enquanto os tabajaras (habitantes das serras cearenses) eram aliados dos franceses.

ENREDO A primeira cena antecipa o fim do livro, o que reforça a unidade da obra: Martim e Moacir deixam a costa do Ceará em uma embarcação, quando o vento lhes traz aos ouvidos o nome de Iracema.

No segundo capítulo, a narrativa retrocede no tempo até o nascimento de Iracema. A personagem é então apresentada ao leitor: “Virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”. A índia é descrita como uma linda e excelente guerreira tabajara, “mais rápida que a ema selvagem”. Por isso mesmo, sua reação ao avistar o explorador Martim é desferir-lhe uma flechada certeira. Essa é também uma referência à flecha de cupido, já que, desde o primeiro olhar trocado pelos personagens, se percebe o amor que floresce entre os dois.

Martim desiste de atacar a índia assim que põe os olhos nela. Iracema, por sua vez, parece atirar a flecha por puro reflexo, pois logo depois se arrepende do gesto e salva o estrangeiro, levando-o até sua aldeia.

Martim é recolhido à aldeia pelo pajé Araquém, pai de Iracema, e apresenta-se a ele como um aliado de seus inimigos potiguaras que se perdera durante uma caçada. O pajé o trata com grande hospitalidade e garante hospedagem, mulheres e a proteção de mil guerreiros.

Iracema oferece mulheres a Martim, que prontamente as recusa e revela sua paixão por ela. O amor de Martim é cristão, idealizado. O de Iracema também, mas por motivo diverso: ela guarda o segredo da jurema, por isso precisa manter se virgem. Esse é o estratagema que Alencar utiliza para transpor o amor romântico europeu às terras americanas. Uma índia, criada fora dos dogmas cristãos, não teria motivos para preservar sua virgindade.

AMOR PROIBIDO
As proibições reforçam ainda mais o amor entre a índia e o português. São as primeiras de muitas provações que tal união terá de enfrentar. Em linhas gerais, o romance estrutura-se no embate entre tudo o que une e o que separa os dois amantes.

Irapuã é o chefe guerreiro tabajara e funcionará, no esquema narrativo da obra, como um antagonista de Martim. Na primeira desavença entre os dois, o velho pajé Andira, irmão de Araquém, intervém em favor do estrangeiro. Iracema pergunta ao amado o motivo de sua tristeza e, percebendo que ele tinha saudade de seu povo, pergunta se uma noiva branca espera pelo seu guerreiro. “Ela não é mais doce do que Iracema”, responde Martim. Irapuã nutre amor não correspondido pela virgem e logo reconhece no português um inimigo mortal.

Iracema conduz Martim ao bosque sagrado, onde lhe ministra uma poção alucinógena. O guerreiro branco delira, e a índia adormece entre os seus braços.

Enquanto isso, Itapuã continua alimentando planos para se livrar do estrangeiro. O amor entre os protagonistas parece impossível de se concretizar, por isso Martim é coagido por Iracema a voltar para sua terra. Caubi, irmão de Iracema, acompanha-os. No caminho de volta, porém, são atacados por guerreiros liderados por Irapuã. Martim, Iracema e Caubi refugiam-se na taba do pajé Araquém, que usa de um truque para salvar o português da ira do chefe guerreiro.

Sucede-se o encontro amoroso entre Martim e Iracema, narrado delicadamente pelo autor. Martim está inconsciente por ter ingerido a bebida da jurema e a índia deita-se ao seu lado. A frase “Tupã já não tinha sua virgem na terra dos tabajaras” é a sutil indicação de que a união amorosa se realizara.
Os acontecimentos que se seguem têm como pano de fundo a guerra entre potiguaras e tabajaras. Martim escapa de seus inimigos tabajaras e une-se aos vencedores potiguaras. Iracema, porém, sente-se profundamente triste pela morte dos entes queridos e não suporta viver na terra de seus inimigos.

O casal muda-se então para uma cabana afastada, localizada numa praia idílica. Com eles vai Poti, o grande amigo de Martim. Lá vivem um tempo de felicidade, culminando com a gravidez de Iracema e o batismo indígena de Martim, que recebe o nome de Coatiabo, ou “gente pintada”. Com o passar do tempo, contudo, o português se entristece por não poder dar vazão a seu espírito guerreiro e por estar com muita saudade de sua gente. A bela índia tabajara também se mostra cada vez mais triste.
Numa ocasião em que Martim e Poti saem para uma batalha, nasce o filho, Moacir. Quando os dois amigos voltam da guerra, encontram Iracema à beira da morte. O corpo da índia é enterrado aos pés de um coqueiro, em cujas folhas se pode ouvir um lamento. Daí vem o nome Ceará, canto de sua jandaia de estimação, uma ave que sempre a acompanhava.

CONCLUSÃO
Iracema, por amor a Martim, abandona família, povo, religião e deus. É uma clara referência à submissão do indígena ao colonizador português. Alguns dizem que o nome Iracema é também um anagrama de América.