quarta-feira, 1 de junho de 2011

Obra: Inocência

2. VISCONDE DE TAUNAY (1843-1899)
Vida: Alfredo d'Escragnolle-Taunay nasceu no Rio de Janeiro, no seio de uma família aristocrática e dada às artes. Seu avô paterno, Nicolau Antônio, viera da França para fundar a Academia de Belas Artes do Rio de janeiro. Seu pai, o também pintor Félix Taunay, tornara-se preceptor de d. Pedro II. Induzido pelos familiares a abraçar a carreira das armas, Alfredo cursou engenharia na Escola Militar e como segundo tenente participou da expedição que tentou repelir os paraguaios que dominavam o sul da província de Mato Grosso. A derrota militar que se seguiu, ocasionada pela falta de víveres e pelo cólera, seria retratado de forma pungente em A retirada de Laguna, relato escrito em francês, já que o futuro visconde era bilíngüe.
Finda a Guerra do Paraguai tornou-se professor de geologia da Escola Militar. Em 1872, publicou Inocência, espécie de Romeu e Julieta sertanejo, certamente a sua principal obra. Foi nomeado presidente da província de Santa Catarina e depois presidente do Paraná. Em 1886, alcançou o Senado, mas por fidelidade ao Imperador, abandonou a política após a proclamação da República. Diabético, morreu na capital federal com cinqüenta e seis anos incompletos.
Obras principais A retirada da Laguna (1871); Inocência (1872).
Visconde de Taunay é o mais interessante dos ficcionistas do sertanismo romântico, embora tenha publicado apenas um romance dentro da referida linhagem.
INOCÊNCIA
Resumo
Cirino, um rapaz de boa índole e muito curiosidade, viaja pelo sertão do Mato Grosso, apresentando-se como médico e dando consultas, quase sempre bem sucedidas, embora seja apenas um "prático"* , com experiência de farmacêutico. Em determinado momento, conhece Pereira, um pequeno proprietário rural que está voltando para casa e que possui uma filha doente.
Cirino aceita a hospitalidade oferecida por Pereira e cura a febre da jovem (Inocência), causada pela maleita. Só que ao vê-la, impressiona-se profundamente com a sua beleza e se apaixona pela sertaneja. No entanto, Inocência já estava prometida por seu pai a um vaqueano, Manecão, caracterizando-se assim a temática nuclear do romance: a do amor impossível.
Simultaneamente, um naturalista alemão, Meyer, que vaga pelos sertões, caçando borboletas, apresenta-se na pequena fazenda sertaneja, acompanhado de um cômico servo e trazendo uma carta de recomendação do próprio irmão de Pereira. Este recebe o cientista de braços abertos mas, por ser muito rústico, não entende que as galanterias que o alemão destina a Inocência são apenas frutos de sua educação e passa a temê-lo e vigiá-lo. Conta para isso com um fiel serviçal, um anão mudo chamado Tico. Sem entender nada do que está se passando, Pereira pede a Cirino que permaneça em sua casa até a partida do alemão para ajudar na guarda da filha, inclusive arranjando-lhe alguns pacientes.
Inocência e Cirino mal conseguem se falar até que, numa noite, o rapaz bate à janela da jovem e confessa-lhe a paixão. Ela responde da maneira mais simplória que alguém pode imaginar:
Mas por que é que mecê gosta tanto de mim? Mecê não é meu parente, nem primo, longe que seja, nem conhecido sequer... Eu lhe vi apenas pouco tempo... e tanto se agradou de mim?
Em seguida, acusa o falso médico de virar-lhe o juízo através de algum feitiço. Mas este a convence da sinceridade de seu amor e Inocência descobre-se igualmente apaixonada por ele. Os dois jovens voltam a se encontrar mais uma vez às escondidas, quando então Cirino propõe a fuga como alternativa para a realização amorosa. Inocência, entretanto, se recusa a isso com medo que o pai a amaldiçoasse e sugere que o namorado buscasse o apoio de um padrinho dela, Antônio Cesário, por quem o Pereira tinha muito respeito.
Enquanto isso, o naturalista alemão descobrira uma espécie desconhecida de borboleta e resolvera batizá-la com o nome de Inocência, deixando Pereira indignado e cada vez mais vigilante. Porém logo o cientista parte, dissipando as suspeitas do pai da sertaneja. Também Cirino viaja em busca do auxílio de Antônio Cesário. Ao mesmo tempo, Manecão, o noivo prometido chega à casa de Pereira. Inocência se recusa a validar o compromisso entre ambos e é espancada pelo pai. Através da mímica, o anão mudo indica o pseudo médico como o responsável pela insubordinação da garota. Exasperado, Manecão vai atrás de Cirino e o assassina.
O romance tem seu desfecho com o sábio Meyer recebendo grande homenagem na Alemanha pela descoberta da borboleta (Papilio Innocentia), sem saber que dois anos antes Inocência preferira desaparecer a se casar com Manecão, encontrando na morte a sua própria salvação.

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